sábado, 27 de junho de 2009

14-06-2009 – Mondim de Basto (3)

CAMINHADA DO DIA DE PORTUGAL

A Caminhada

Bastava uma simples frase para a descrever:
Um Hino ao Pedestrianismo!

Este ano, pela aproximação do Dia de Portugal ao Dia de Corpo de Deus, resolveu a Organização que se realizasse a "Caminhada do Dia de Portugal" no Domingo imediato, dia 14 de Junho.
Depois do Sábado chuvoso, a manhã de Domingo surgiu algo cinzenta. Após a recepção aos participantes por elementos da Junta de Freguesia, fomos transportados no autocarro da Câmara Municipal desde Mondim até Varziguêto. Calorosas saudações e breve descrição da Marcha pelo "Guia" Fernando Gomes, iniciamos o percurso junto à estrada, no alto da Serra (da Louza) Alvão, próximo da Aldeia de Varzigueto.
Nas “Memórias Históricas” lê-se: « (…) Esta Serra é muito fria com vento e neve. Nella pasta todo o género de gado… há nella perdizes e algumas lebres, porcos monteses e lobos e mais bicharia. Também dizem que nas faíscas do fraguoedo se criaram algum tempo águias reais…»
As primeiras centenas de metros são percorridas pela margem duma levada seca. Um velho moinho a desfazer-se, prova que noutros tempos por aqui corria muita água.
Depois descemos gradualmente pela escarpa até uma zona florestal, onde predomina o pinheiro bravo e ainda se extrai a resina. Mais um pouco abaixo e do alto de uma fraga avistam-se os férteis lameiros e os montes circundantes do Vale da Fervença.
Empurrados pelo peso do corpo, este descendente algo perigoso, pela irregularidade e deslizamentos das pedras, bastante acentuado, depressa nos leva ao leito da Ribeira, onde a sua transposição para a outra margem iria proporcionar momentos de rara beleza, quer pelas dificuldades que a vegetação ribeirinha e os penedos escorregadios provocavam, bem como o selvagem caudal. O espírito de entreajuda dos Companheiros aos menos adaptados, bem como as orientações do guia, Fernando Gomes, fizeram com que todos os elementos passassem para a outra margem sem qualquer tipo de acidente, a não ser algumas molhadelas inevitáveis. Houve, inclusive, "quem" demonstrasse como …se deve cair á água.
E aquela senhora de 71 anos, meu Deus?! Que espírito de aventura ainda tão jovem!
Como é tão belo assistirmos a estes espectáculos que o ser humano interpreta num perfeito contacto com a Natureza!
Depois de atravessarmos um lameiro alagado e percorrermos a berma de alguns campos, eis que, surge-nos a serpentear por frondoso bosque, a “Levada de Varzigueto”, bucólico e telúrico canal, construído pelo homem, como forma inteligente de aproveitamento das abundantes águas de rios e ribeiros, incrementando desde há séculos essa prática de regadio colectiva e organizada. « (…) das ditas Levadas, uzam os Povos com liberdade sem pençam algua, repartindo as agoas para a cultura das terras por dias e horas.»
Pese embora toda a atenção redobrada ao caminhar por sinuoso e escorregadio trajecto da levada, que impossibilitava contemplarmos tudo por onde passávamos, praticamente em fila indiana, é de realçar a esplendorosa paisagem envolvente ao longo destes canais de águas cristalinas ensombradas por bosques cerrados dum verde imaculado, que a todos cortava a respiração com tanto deslumbramento.

« A gente cansa de estar olhando e sempre vendo um novo encanto a cada olhar que lança!»… dizia o Poeta João de Deus.

Depois de caminharmos alguns quilómetros por este “paraíso escondido”, no Outeiro da Lourinha deixávamos o trilho desta levada e inflectíamos para S. João e chegávamos à velhinha Capela de S. João do Ermo.
Neste singelo recanto, agora sem altar e despido de tudo que simbolize um lugar religioso e sagrado, habitam agora alguns morcegos, uma espécie rara do Parque do Alvão.
Cá fora juntamo-nos todos e tiraram-se as fotos de Grupo. E que bom Grupo!
No regresso ao caminho, enveredávamos um pouco mais descansados pela levada de S. João, alimentada a montante pela Ribeira de Fervença que ouvíamos sussurrar lá no fundo, misturando-se com as melodias que algumas aves entoavam.
Quem dera nunca mais acabar!
Em vários pontos da levada, surgiam obstáculos de maior dificuldade para se transpor, como passadiços e árvores tombadas, centenários caniços donde emergem novos rebentos, bem como zonas de piso muito escorregadio, inclusive com acentuados declives. Tais lugares provocavam maior demora no caminhar da extensa fila, causando por vezes algum congestionamento e até paragem do andamento.
Num desses momentos, olhando por detráz dos montes da Laboreira, vislumbramos ao longe o Monte Farinha. Não houve um único percurso sequer que não contemplássemos a Senhora da Graça! – exclamávamos.
Pois não – respondia ao lado o Sr. António. E acrescentou:
- Era como o “Ermitão”, o Sr. Ventura. Ele tinha que ir pedir aos “Irmãos” e ao Povo para a Irmandade da Nossa Senhora da Graça. Lá ia com a Santinha ao peito.
Se lhe perguntavam: Por onde vais pedir, “Ermitão”? – ele respondia sempre:
- Ao redor da Senhora da Graça!
Ele corria os sete caminhos e nunca se perdia, pois tinha como referência o alto do Monte. Vivia numa casinha de vigilante ao Santuário, onde criou com dificuldade alguns filhos, ainda hoje vivos.
Contagiados pelo espírito Mondinense, ao escutarmos deste Companheiro tão singela história, logo nos vinham à lembrança aquelas profundas palavras de Luís Jales de Oliveira:

No cimo do Monte há uma Capela
E cada vez que olho para ela
Apetece-me voar!

Num ápice, fugindo das Catarinas da Ribeira, o grupo chegava compacto a Ermelo, histórica Vila Medieval. Surge num ponto mais elevado a Igreja Matriz e caminhando entre o típico casario recuperado que manteve a traça, bem como os tradicionais telhados de louza, descobre-se a Junta de Freguesia, tendo a seus pés o secular Pelourinho. Confraternizamos no Snack Bar “Silva”, que nos serviu saborosa e farta comida, desde churrasco, feijoada, arroz do forno, saladas, pão regional e onde se incluíram também vinhos e sumos, bem como sobremesa de salada de fruta, pudins, bolos e… café.
É nesta “fase” do percurso que o Pedestrianista sofre, coitado! Óh! Como sofre! ih ih ih
Entretanto, chegaram os jovens irmãos com as concertinas e a festa animou, desde as danças aos cantares, com destaque na “perninha” para os Srs. Autarcas e na “garganta” para o Sr. José, o conhecido motorista da Câmara. Isto é que é “Chaufeur”, diziam alguns!
Antes do regresso de autocarro à Freguesia de Mondim, ainda teve lugar o habitual e obrigatório “caldinho verde”, acompanhado do “tal” tinto.
Esta gente não aprende!... ih ih ih
Depois vieram as despedidas, com a nítida sensação de um dia tão bem passado que a Junta da Freguesia de Mondim de Basto proporcionou a cerca de meia centena de corajosos e activos Caminheiros.

Bem Hajam! Até à próxima!

Fotos da Caminhada (B)







Continua...

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